COP27, Bispos africanos: não há justiça climática sem justiça da terra
COP27 / O tema levantado pelos Bispos africanos, aquele que liga a justiça climática à justiça da terra, é de fato global e certamente envolve os povos da África, mas também muitas áreas da Ásia e da América do Sul
COP27, os pensamentos dos bispos africanos se voltam para Sharm el-Sheikh
Os bispos do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar disseram em 8 de novembro que a terra, os recursos naturais e o ecossistema eram as principais fontes de subsistência para os povos da África, mas muitos não tinham acesso à terra devido a relações comerciais perversas e propriedade.
Ao mesmo tempo, enquanto as pessoas lutavam contra a atual crise climática global, foram vítimas de apropriação de terras e água, sofreram poluição de sua água e solo por pesticidas e estavam perdendo biodiversidade e sementes tradicionais, segundo os bispos.
“As comunidades compartilham a experiência de que, ao reivindicarem seus direitos à terra, estão sendo perseguidas, o que está levando a conflitos mais violentos, desespero e instabilidade”, disse. Cardeal congolês Fridolin Ambongo Besungu, presidente da Comissão de Justiça, Paz e Desenvolvimento do SECAM, disse em um comunicado intitulado “Não há justiça climática sem justiça da terra”.
O cardeal disse que está claro que as comunidades seriam melhores se seus recursos não fossem capturados por pessoas e corporações poderosas e doados por instituições públicas fracas.
“Estamos denunciando falsas soluções que privam as comunidades locais de seus meios de subsistência, seus direitos à terra e posse. Juntamo-nos às comunidades na mobilização contra os investimentos imprudentes de aquisição de terras em grande escala e sua luta contra a apropriação de terras”, disse Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa.
COP27 / O comunicado listou empresas multinacionais que disse estarem envolvidas em apropriações de terras no Congo, Serra Leoa, Costa do Marfim, Moçambique, Uganda e Tanzânia
“Gostaríamos de chamar todos aqueles reunidos em Sharm el-Sheikh para lembrar o chamado feito recentemente pelas comunidades locais em sua luta contra a aquisição de terras em grande escala. À medida que as discussões sobre a crise climática se intensificam, a terra e a justiça climática devem andar de mãos dadas”, disse o cardeal no comunicado.
Ao expressar solidariedade às comunidades e territórios afetados pela “grilagem de terras”, conflitos armados e guerras por recursos, os bispos recomendaram ações climáticas que priorizem mudanças equitativas e justas nos setores agrícola e de mineração.
Eles pediram a inclusão de comunidades indígenas e seus líderes como parceiros-chave de diálogo quando projetos de aquisição de terras em grande escala envolvem suas terras.
Líderes da Igreja na Amazônia fizeram declarações semelhantes, inclusive no Sínodo dos Bispos da Amazônia de 2019
A declaração do SECAM disse que uma revisão do Artigo 6 do Acordo de Paris sobre mudança climática ajudaria a combater a mercantilização da terra e dos recursos naturais e protegeria contra danos aos meios de subsistência das comunidades.
O Artigo 6 permite que os países cooperem voluntariamente uns com os outros para atingir as metas de redução de emissões estabelecidas em suas contribuições nacionais para créditos de carbono.
Os bispos também instaram o Norte Global a pagar sua dívida ecológica e usar o conhecimento indígena para projetar intervenções contra as mudanças climáticas.
“A cultura da ecologia integral pode contrariar a cultura da irracionalidade diante da emergência climática”, disse o comunicado do cardeal.
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